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terça-feira, 4 de maio de 2010

A Criação

"And one day, I am going to grow wings,
a chemical reaction,
hysterical and useless."

Radiohead, Let Down

No princípio é o Caos.

Cada movimento é um barulho desordenado, desafinado e desencontrado.

Num segundo, a batida da baqueta no prato e o tempo forte, marcado pelo bumbo, criam a terra.

Sobre sua segurança, o som forte e impactante das cordas espessas do baixo funda os alicerces de um grande monte que será erguido.

Em seguida, as notas sobrepostas no teclado são como grandes rochas que, subindo, erigem, harmonicamente, as faces ainda rudes do monte.

É então que, já no alto do rochedo, surgem as notas agudas da guitarra, dando contorno e colorido ao rochedo, já não tão rude.

As arestas se aplainam. As fendas são preenchidas. Sobre a pedra fria, aparecem os primeiros sinais de vida pulsante, quente, dinâmica. É possível sentir a respiração, o impulso, o passo firme, a paisagem que se desenha.

De repente, no firmamento harmônico, surge um pássaro, uma ave de rapina, totalmente livre em seu voo sobre a montanha, emitindo seu canto que, ainda que não fosse feito de palavras, seria compreendido, de um canto ao outro da terra.

O Eco se faz ouvir ainda após muito tempo, como se o próprio canto tivesse ganhado vida própria, e saísse, irreprimível, se multiplicando pelo espaço.

Ainda que a música acabe, a Criação é eterna.

Agora eu entendo porque os Beatles se consideravam deuses.

Leonardo Sinnatra.

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